Ao longo dos últimos cinquenta anos os sistemas de saúde tem enfrentado problemas como custos crescentes, baixa eficiência e má qualidade da atenção.
Assim como ocorreu com outras indústrias, o setor saúde não conheceu uma revolução industrial com os benefícios trazidos pela otimização e padronização de insumos, processos e resultados, pela customização da formação e habilidades profissionais e por sistemas rigorosos de avaliação de resultados e qualidade.
Algumas mudanças começaram a realizar-se nos últimos anos, através de sistemas de acreditação de estabelecimentos de saúde e certificação profissional. Inovações, como os registros eletrônicos de saúde, grandes bases de dados, internet das coisas, block-chain e outros benefícios trazidos pela tecnologia da informação tem facilitado o uso em larga escala de dados estruturados para a tomada de decisões.
Mas a pedra fundamental desta mudança tem sido a introdução do Value-Based Health Care – VBHC, que busca alcançar os melhores resultados em saúde ao menor custo, maximizando o valor dos cuidados para o paciente, a partir de uma visão holística que tenha como base a melhoria da qualidade e da saúde populacional.
Os governos nos países desenvolvidos (geralmente os maiores compradores de saúde) tem tido um papel fundamental em promover incentivos para mudar os sistemas de pagamento e remuneração (de volume de serviços prestados para o desempenho ou performance) com vistas a promover uma gestão da saúde organizada em torno dos resultados que os pacientes precisam.
Foi assim nos Estados Unidos, onde desde 2011, a implantação do VBHC no MEDICARE – o maior programa público de saúde do país – permitiu melhorar a vida de milhões de idosos, estimando uma economia acumulada de recursos de US$ 1 trilhão, entre 2010 e 2020. As sinergias geradas pelo MEDICARE levaram os planos de saúde e provedores privados norte-americanos a implantar esta nova filosofia de gestão para solucionar os desafios do setor nos últimos cinquenta anos, e muitos países da OECD estão seguindo os mesmos passos.
E no Brasil, será que estamos preparados para que o SUS faça a sua parte e enfrente nossos desafios de cobertura, eficiência e qualidade da saúde, gerando sinergias numa nova relação público-privada baseada no VBHC?
André Medici, Economista Sênior em Saúde do Banco Mundial
Contato: mediciandre@gmail.com