Para falar sobre o assunto, o evento recebeu a Asap, a ANS e a FenaSaúde
21 de setembro de 2018
Como regulação é sempre um tema de destaque dentro dos debates do setor, a segunda edição do Congresso de Saúde Suplementar optou por receber entidades líderes no assunto para encerrar a programação da segunda-feira, 17 de setembro. Realizado pela TM Jobs e Business Club Healthcare em parceria com o Inlags (Instituto Latino Americano de Gestão em Saúde), a Hospitalar e o Santander, o congresso contou com a presença da Asap (Aliança para a Saúde Populacional), da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) no talk show “A regulação do setor para promoção e prevenção”.
Daniel Pereira, falando em nome da ANS, afirmou ser motivador ver que o setor está unido em busca de soluções. “É um desafio gigante promover ações e medidas regulatórias que buscam desenvolver um segmento tão completo e heterogêneo quanto o setor de saúde suplementar”, disse.
Considerando que o Brasil é um dos países com o maior número de ressonâncias magnéticas e tomografias, exames de alta complexidade, realizadas no mundo, Pereira declarou: “Temos um número absurdo de exames, muitas vezes desnecessários, que geram um desperdício grande para o setor”.
Para ele, o aumento do gasto em saúde decorre especialmente da fragmentação e desorganização do cuidado, o que resulta em desperdícios que comprometem a sustentabilidade e geram aumento do gasto. “É justamente esse ponto que pretendemos reformular. É uma missão difícil e não existe alternativa simplista. Por isso, resolvemos desenvolver uma série de ações que devem ser vistas de forma conjunta em uma tentativa de adequar cada um dos problemas identificados”, afirmou.
Dentre as ações que foram detalhadas por Pereira, destaca-se a Promoprev (RN nº 264/11 e INC Dipro/Diope nº 7/12); programas de indução à qualidade como, por exemplo, o OncoRede e o Idoso Bem Cuidado; aprimoramento dos instrumentos legais e éticos de contenção da sinistralidade; discussão sobre modelos inovadores de remuneração; projeto Proadi/SUS que, junto ao Hospital Moinhos de Vento, trabalha o desenvolvimento de indicadores de desfecho clínico; e divulgação da qualidade por intermédio do IDSS (Índice de Desempenho da Saúde Suplementar) e do PQ1 (Programa de Acreditação de Operadoras).
Representando a FenaSaúde, Sandro Leal Alves optou por tratar do papel do cliente e da operadora na mudança do atual modelo. “O principal agente de mudança nessa história toda é o beneficiário, que tem que reconhecer que a participação dele num programa desse gera valor pessoal para ele, caso contrário ele não vai aderir e, se aderir, não vai permanecer. O contratante também tem que ter um nível de mobilização maior para reconhecer tudo o que pode fazer pelos seus beneficiários”, declarou.
Ao falar sobre a contratação de operadoras de saúde pelo empresariado brasileiro, Alves enfatizou que a contratante tem um papel altamente relevante na busca por funcionários mais saudáveis e, consequentemente, mais produtivos. “A operadora muitas vezes olha para um horizonte diferente da empresa contratante. A operadora tem ação limitada sobre os colaboradores da empresa que a contrata. Pode influenciar e contribuir, porém a ação vem muito mais do ativismo dos recursos humanos e do engajamento desses times com as boas práticas.”
Falando sobre dados, o representante da FenaSaúde enfatizou a importância de a saúde suplementar ter acesso a dados reais a respeito dos serviços que contrata para compor sua carteira de credenciados. “Precisamos melhorar a eficiência desses sistemas. Hoje temos opacidade com relação aos resultados. Escolhemos, por exemplo, um hospital com base na proximidade ou em sua reputação, mas não há transparência. Para as operadoras sentirem robustez para investir em promoção e prevenção, é preciso aparar arestas de fraudes e desperdícios. Para olhar o longo prazo, precisamos passar pelo curto prazo, que está cada vez mais complicado”, pontuou.
Integrando o time de especialistas do talk show, Ana Elisa, da Asap, também falou sobre o desafio da promoção do autocuidado. “Tudo passa por educação. A questão da capacidade de entendimento do usuário na percepção de que não pode terceirizar sua própria saúde vem da base, da educação na escola. Hoje a gente infelizmente sofre com problemas relacionados a educação e saúde”, disse.
No âmbito da contratação corporativa, Ana Elisa mencionou que a implantação de novos modelos de gestão de saúde dentro das companhias é absolutamente estratégica. Além disso, mencionou que ao longo das décadas a saúde brasileira se transformou em um Frankenstein e que, agora, é preciso criar um modelo realmente baseado em promoção e prevenção. “Para alcançarmos esse objetivo, devemos passar pela construção de uma comunicação eficiente entre todos os envolvidos. Como faremos para que todos que têm o mesmo propósito de gerar saúde tornem-se sinérgicos na construção de um modelo mais sustentável?”, questionou.
Para ela é preciso flexibilizar o sistema. “Não dá mais para achar que vamos mudar mantendo os pilares estáticos. A regulamentação precisa mudar e temos que focar na oferta de geração de valor, remunerando por isso e dando mais liberdade ao mercado”, finalizou.