O desafio dos contratantes em promoção e prevenção em saúde

Na sua visão, qual a importância da integração entre as áreas assistencial e ocupacional nas empresas?

Ainda é frequente observar em algumas empresas uma completa fragmentação, onde não há integração entre as áreas assistencial (incluindo a gestão do plano de saúde) e ocupacional. Estudos nacionais e internacionais demonstram que a gestão integrada maximiza os resultados através do rastreamento e da abordagem dos fatores de risco para condições crônicas, aumenta a adesão a tratamentos e coordenação do cuidado. Além disso, a disponibilização de painéis de controle que incluam custos assistenciais e relacionados a produtividade permitem um maior controle dos processos e dos desfechos desejados. Por exemplo, os exames periódicos de saúde são excelentes oportunidades para estratificação da população, para oferecer feedbacks educativos e elaboração de planos de cuidado para as pessoas com condições crônicas.

A participação dos contratantes na gestão do benefício-saúde ainda é tímida no Brasil. Como avançar neste campo?

A experiência do Grupo Técnico de Saúde Suplementar da CNI (GTSS-CNI) que reúne representantes de empresas industriais de todo o país demonstra que é possível a integração entre contratantes para uma agenda comum.  Este Grupo elencou alguns tópicos estratégicos como a gestão integrada de dados, integração dos stakeholders, novos modelos de remuneração e cuidado integrado e integral. Sem dúvida, o sistema ainda carece de transparência e os inúmeros eventos promovidos pelo setor demonstram ainda uma postura defensiva onde o “culpado é sempre o outro”.

Especificamente na questão da saúde populacional, o que pode ser feito?

Acredito ser interessante o uso de alguns modelos lógicos. O primeiro seria a tripla meta (“triple aim”) onde iniciamos com a saúde populacional (não adianta só gerenciar as internações, o uso de OPMEs ou as cirurgias. É importante abordar a população como um todo, incluindo as pessoas de baixo e médio riscos), a experiência do paciente e buscar os menores custos. Em seguida, considerando-se que 70-80% das condições podem ser abordadas na atenção primária é importante considerar-se os quatro atributos essenciais propostos por Barbara Starfield (acesso/acessibilidade, longitudinalidade, coordenação do cuidado, integralidade). Finalmente, a maioria dos adultos possuem condições crônicas, assim é relevante adotar-se o modelo de cuidados crônicos (CCM) particularmente no que se refere à organização dos serviços (estímulo ao autocuidado, o desenho do sistema de prestação de serviços, o suporte à decisão clínica e o sistema de informação). A adoção destes modelos permite atingir os melhores resultados clínicos e operacionais.

Há muitas iniciativas para modificação do marco legal da saúde suplementar. Qual o seu impacto para a saúde populacional?

A Lei 9656 que regulamenta os planos de saúde tem mais de 20 anos e, certamente exige ajustes e atualizações. Há várias propostas de modificação no Congresso Nacional. Especificamente no que se refere à saúde populacional é importante estarmos atentos para que as modificações não levem à precarização na atenção à saúde, com coberturas limitadas e que transferem para o SUS os tratamentos mais caros e prolongados. Sem dúvida, é importante o uso da telemedicina, de sistemas digitais e aprimorar os sistemas de incorporação de tecnologia. Além disso, devemos sempre nos lembrar que a maioria da população (inclusive de trabalhadores empregados) é atendida pelo SUS que deve ser fortalecido cada vez mais.

Alberto J N Ogata é presidente da Associação Internacional de Promoção da Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP) e pesquisador associado ao Centro de Pesquisa e Administração em Saúde da FGV EAESP.

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