Responsável pela inserção tecnológica em grandes entidades de saúde, a engenharia clínica precisa ser desmistificada. Vista durante muito tempo apenas em uma relação direta com a área de manutenção de equipamentos, assume papel fundamental inclusive dentro dos anseios da acreditação hospitalar.
19 de outubro de 2018
No dia 26 de outubro, o Business Club Healthcare estará em Salvador, na Bahia, para a realização do 6° Encontro de Engenharia Clínica. Na agenda, palestras sobre acreditação hospitalar, inovação na saúde e consolidação de tecnologias prometem um diálogo importante para a área.
A fim de desbravar os assuntos que serão debatidos durante o encontro, conversamos com dois palestrantes que estarão no evento. Lúcio Sarrizo é coordenador de engenharia clínica do Hospital Aliança – que recebe o BCH – e Alexandre Henrique Hermini é assessor de equipamentos hospitalares do Hospital da Mulher da Unicamp.
Confira, abaixo, entrevista completa.
Business Club Healthcare – Qual a importância da Engenharia Clínica para promover a acreditação Hospitalar?
Lúcio Sarrizo – O grande pilar da acreditação hospitalar é a segurança do paciente e a engenharia clínica tem muito a contribuir em relação às tecnologias médicas. A veracidade das informações apresentadas por qualquer dispositivo médico tem alta influência no plano terapêutico do paciente. Um equipamento que não esteja calibrado, por exemplo, pode passar informações equivocadas para a equipe assistencial. E essa segurança deve ser garantida pela engenharia clínica.
Business Club Healthcare – Quais são as áreas mais impactadas nesse desafio?
Lúcio Sarrizo – Acredito que todas as áreas assistenciais são impactadas, principalmente se a engenharia clínica não alcançar seus objetivos. Se realizamos um mapeamento do serviço de engenharia clínica, iremos identificar que seus clientes internos e externos estão ligados diretamente ao processo.
Alexandre Hermini – A engenharia clínica não pode agir isoladamente. Todas as ações da área de tecnologia em saúde são multidisciplinares. É preciso juntar todos os grupos de médicos, enfermeiros, gestores e engenheiros, pois é necessário reunir subsídios para a tomada de decisões.
Business Club Healthcare – É preciso desmistificar a engenharia clínica?
Alexandre Hermini – A engenharia clínica vive um problema sério por ser sinônimo de manutenção de equipamento hospitalar mesmo que o mundo inteiro está há mais de 20 anos mostrando que esse não é o caminho. A engenharia clínica deve ser a pilastra de sustentação para o uso da tecnologia na assistência ao paciente.
Business Club Healthcare – Quais são os desafios da Engenharia Clínica nesse sentido?
Lúcio Sarrizo – De uma maneira geral, o grande desafio é gerenciar o parque tecnológico, realizando todo plano de manutenção, avaliação de novas tecnologias, acompanhamento do ciclo de vida dos equipamentos e, assim, assegurar a veracidade das informações apresentadas pelos dispositivos médicos. Para este gerenciamento ser eficaz, o serviço de engenharia clínica deve ter um planejamento das atividades bem definido, além do uso de ferramentas de qualidade e, principalmente, engajamento de toda equipe para que o objetivo final – a segurança do paciente – seja a melhor possível.
Alexandre Hermini – O grande desafio da engenharia clínica é se mostrar como algo que transcende (e muito) a manutenção, é estratégico. Se antes da incorporação tecnológica não for analisado que um equipamento de tomografia, por exemplo, exigirá R$ 350 mil em manutenção periodicamente, gera-se um grande problema por erro de planejamento. E 80% dos engenheiros clínicos passam 90% do tempo cuidando de manutenção de equipamentos quebrados. Ou fazemos um divisor de águas e mudamos a maneira como enxergamos o setor ou passaremos os próximos 40 anos apagando incêndios.
Business Club Healthcare – Qual a importância da evolução tecnológica e da inovação para o setor?
Lúcio Sarrizo – Nos dias de hoje vivemos a era da tecnologia 4.0, com a aplicação de conceitos de inteligência artificial e big data. A tendência do setor de healthcare está no uso destas tecnologias, e o serviço de engenharia clínica tem importante papel neste novo conceito. A tomada de decisão com relação ao uso de novas tecnologias deve ser realizada de forma multidisciplinar, e a engenharia clínica deve avaliar qual o impacto destas novidades tecnológicas, além dos benefícios à segurança do paciente. A conectividade entre engenharia clínica e tecnologia da informação tende a aumentar e devemos estar preparados para este novo momento.
Alexandre Hermini – A inovação tem que ser um processo consciente para não gerar problemas.
Business Club Healthcare – Qual a expectativa para o encontro do próximo dia 26?
Alexandre Hermini – Temos boas expectativas por sair do eixo Rio/São Paulo, pois temos centros muito importantes na região nordeste, principalmente em Salvador e em Recife. E nosso papel é enxergar o cenário sob a ótica desses locais que estão fora da nossa rotina. Tanto que abordaremos questões altamente impactantes como a rastreabilidade tanto de bens quando de uso, pois é com base nessas análises que a inteligência artificial pode ser aplicada para melhorar a confiabilidade da utilização das tecnologias.
Lúcio Sarrizo – A Bahia está muito feliz com esse evento que vem para engrandecer a engenharia clínica no nordeste de forma geral. Tenho mais de 16 anos de experiência no setor – sempre na Bahia – e posso afirmar que esse é um dos maiores eventos que já programamos. O Hospital Aliança abraçou essa iniciativa e está de portas abertas para os profissionais da área. Acredito que disseminar conhecimento é uma obrigação de todos, e esse encontro é apenas o começo.