Como a ANS tem apoiado os contratantes em fazer GSP (Gestão de Saúde Populacional).
A ANS vem promovendo no setor um amplo debate sobre a incorporação de práticas inovadoras na assistência e na gestão dos serviços de saúde, com ênfase na prevenção de riscos e doenças, na necessidade da gestão de informações e do cuidado integrado em saúde e no fortalecimento da atenção primária em saúde e na implementação de modelos de remuneração de prestadores baseados em valor, visando um aumento da qualidade em saúde e a sustentabilidade do setor.
Desde 2014 a Agência debate em maior profundidade o enfrentamento de doenças crônicas, buscando uma forma mais sistêmica para abordar o assunto e maneiras de engajar o empregador nessa discussão. Nesse sentido, foi firmado um acordo de cooperação técnica com o SESI, renovado recentemente, através do qual está sendo discutida com mais intensidade a importância do contratante de planos de saúde como uma força motriz que poderia proporcionar uma maior tração e velocidade na mudança de modelo assistencial.
Qual a importância de trazer os contratantes para essa discussão? Qual o papel deles e como podem ajudar a tornar o setor Saúde Suplementar mais sustentável.
Atualmente temos um modelo assistencial muito fragmentado e entendemos que o contratante pode ser um elemento-chave para promover a coordenação maior desse cuidado. Dois terços dos planos assistenciais de saúde são coletivos empresariais e, se conseguirmos realizar uma parceria entre contratantes e operadoras no âmbito da gestão de saúde populacional, conseguimos um modelo assistencial mais sustentável. É um trabalho conjunto de construção coletiva e é importante analisarmos o quanto se avançou e de que forma podemos investir em um modelo mais resolutivo e mais sustentável, haja vista que os gastos com saúde estão aumentando e tendem a aumentar ainda mais com a evolução demográfica.
Alguns caminhos podem ser apontados para uma gestão mais eficiente, como a assistência preventiva, a mudança na lógica de remuneração dos prestadores de serviço. No modelo atual, as operadoras são remuneradas por serviço prestado (modelo conhecido como fee for service), o que serve de estímulo à execução em excesso de procedimentos e contribui para a ineficiência do sistema. É preciso migrar para um modelo baseado em performance, que incentive a prestação de serviços focados em qualidade que, efetivamente, contribuam para a melhorar do quadro clínico dos pacientes.
Com os avanços das tecnologias e aplicativos, certamente a informação e a qualificação desses dados podem ajudar os dados futuros, como a ANS tem trabalhado nesse sentido?
A Agência participa como membro efetivo do Comitê Gestor da Estratégia de e-Saúde do país – instituído pela Resolução nº 5 da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), de agosto de 2016. Dentre as atribuições do Comitê está a adoção dos padrões de interoperabilidade entre aplicativos de prontuário eletrônico do paciente para integração ao Registro Eletrônico em Saúde nacional (gerido pelo Ministério da Saúde) e a definição de estratégias de implementação. Em 2018, o Comitê Gestor da Estratégia de e-Saúde constituiu um grupo de trabalho, do qual a ANS participa, para implementação da estratégia de e-Saúde para o país.
Recentemente, participei da 25ª reunião do Comitê de Saúde da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e um dos temas mais relevantes tratados foi a iniciativa PaRIS (Patient-Reported Indicator Surveys) que, em linhas gerais, consiste em pesquisas para construção de indicadores de saúde relatados pelos pacientes. A iniciativa visa tornar os sistemas de saúde mais centrados nas pessoas, por meio da coleta sistemática de dados acerca do que mais importa aos pacientes em função das suas condições clínicas e dos tratamentos possíveis.
Essa iniciativa internacional reforça movimento cada vez mais consistente no setor de saúde: a busca por um sistema baseado em valor para os pacientes, ou seja, um sistema que entregue resultados em saúde que realmente importam a um custo suportável. A ANS está alinhada a essa perspectiva e tem acompanhando essa tendência e, como já mencionado, vem promovendo debates com o setor e implementando medidas para incentivar a mudança do modelo assistencial e de remuneração de prestadores, estimular a incorporação de práticas inovadoras na assistência e na gestão dos serviços de saúde e para aprimorar a assimetria de informação.
Para os empresários contratantes que ainda não perceberam como essa gestão é importante qual o seu recado para eles?
À medida em que grande parte da força de trabalho da população brasileira possui plano de saúde, é possível afirmar que o setor de saúde suplementar contribui com a produtividade média da economia brasileira. Este é um setor chave não somente pela geração de empregos no setor e em resultados em indicadores de saúde, mas é um setor chave para a economia e para a retomada de crescimento sustentável do País. Portanto, o empresário deve atentar para a importância da gestão em saúde da sua organização. Precisa se envolver em discussões e iniciativas em prol de soluções em saúde que entreguem valor para a sociedade, contribuindo para um modelo assistencial sustentável, com melhores resultados em saúde e a um custo suportável.
Leandro Fonseca – Diretor Presidente da ANS
leandro.fonseca@ans.gov.br