O que esta crise tem a nos ensinar?

Nas últimas semanas, e de forma mais intensa nos últimos dias, fomos “atropelados” por informações relativas a esta pandemia que a humanidade está enfrentando.

Trata-se sem dúvida de uma crise mundial sem precedentes na área de saúde, nos tempos contemporâneos.

Crise sempre envolve perigo e oportunidade e esta deverá gerar profundas alterações de comportamento na humanidade. Percebemos que traz o melhor e o pior de todos, impactando pessoas e empresas de diferentes formas, transformando relações pessoais, familiares, profissionais e empresariais.

A necessidade de isolamento social e reclusão é a oportunidade para reflexões e resgates nos relacionamentos familiares.

O instinto de sobrevivência fomenta um maior cuidado com o coletivo, em detrimento do individual, onde a prioridade passa a ser a necessidade de contenção da propagação do vírus e a liberdade individual de ir e vir intensifica o risco de propagação, gerando uma ameaça para todos.

A substituição dos escritórios corporativos pelo home office altera o modelo de trabalho.

Isso sem falar nas mudanças na etiqueta de higiene social e nos cuidados com a saúde.

Há setores mais e menos ameaçados com o cenário atual e a crise evidencia ineficiências escondidas. Uma ineficiência identificada em muitas empresas de todos os setores foi a ausência de programas de gestão de saúde populacional, que tem início no mapeamento do perfil de saúde da população, com a divisão conforme situações de risco. Cada grupo de risco tem uma necessidade diferente e, por isso, a atenção deve ser diferente para o saudável e para o portador de doença crônica.

Para muitas empresas a inexistência do perfil de saúde dos colaboradores dificultou a implantação rápida e assertiva de plano de contingência para proteção da saúde dos mesmos e contenção da propagação do vírus.

A mudança da pirâmide demográfica brasileira é tema de inúmeras análises e publicações devido ao seu impacto socioeconômico na sociedade brasileira, nos próximos anos. O impacto na área de saúde suplementar brasileira vem gerando grandes alterações e desafios nas relações entre seus diversos stakeholders. Estas transformações, algumas disruptivas, não serão necessariamente em benefício de seu elo mais importante, que é exatamente quem contrata os serviços de saúde que são as empresas empregadoras.

O cenário atual da saúde, agravado pela pandemia que enfrentamos ressalta a necessidade destas empresas utilizarem ferramentas que permitam avaliar de forma contínua seus modelos e processos de gestão, de forma a implantar as melhores práticas de gestão da saúde de seus talentos, de um ponto de vista estratégico e operacional.

As empresas podem adotar ações para estabilizar doentes crônicos e programas de incentivos a mudanças de hábitos e adoção de um estilo de vida mais saudável.

O local de trabalho é um espaço importante para os programas de proteção da saúde, promoção da saúde e prevenção de doenças. Enquanto os empregadores têm a responsabilidade de fornecer um local de trabalho seguro e livre de riscos, eles também têm oportunidades para promover a saúde individual e um ambiente de trabalho saudável.

Os programas de saúde no local de trabalho podem levar a mudanças no âmbito individual e da organização, podendo impactar de forma positiva áreas como custos assistenciais, absenteísmo, produtividade, recrutamento/retenção, cultura e disposição dos funcionários.

Os programas de promoção da saúde no local de trabalho têm maior probabilidade de serem bem-sucedidos se a segurança e saúde ocupacional forem consideradas na sua concepção e execução.

Assim como as doenças crônicas não transmissíveis, os transtornos mentais são tratáveis e as empresas podem usar diferentes estratégias para cultivar um ambiente de suporte e inclusivo no trabalho. No entanto, durante muito tempo, o problema de saúde mental ficou à margem das discussões sobre a saúde no ambiente de trabalho.

Fatores que afetam a saúde mental podem ser encontrados dentro e fora do local de trabalho e, sendo assim, alguns estão relacionados ao indivíduo e ao seu comportamento, e outros ao ambiente físico e riscos psicossociais que podem estar no local ou na atividade laboral, tais como carga de trabalho inadequada, estilo de gestão ruim, comunicação deficiente no trabalho e muitos outros,

Mesmo antes desta pandemia, o mundo corporativo atual já vivenciava profundas mudanças e grandes desafios, que impactam diretamente em sua produtividade e competitividade, refletindo, principalmente, na relação das empresas e seus funcionários.

Estudos já comprovaram que empresas que têm ambientes focados na saúde e bem-estar dos colaboradores conseguem uma performance acima da média daquelas que não possuem este foco.

Diante da importância da saúde e de seus impactos nas organizações, fica claro o papel de destaque da contratação de serviços de saúde na estratégia das empresas.

Líderes visionários já encaram a gestão da saúde como estratégica e não permitem que a saúde de seus colaboradores seja tratada apenas como um item no pacote de benefícios. Com o objetivo de contribuir, consolidar e expandir esta visão idealizei o livro “Boas Praticas de Gestão de Saúde Corporativa”, para ser um importante instrumento no processo de transformação da gestão da saúde corporativa. Foram reunidos 29 profissionais, especialistas em suas áreas de atuação, que compartilham seu conhecimento em 17 capítulos, cada um com um tema muito bem desenvolvido, com linguagem bastante objetiva para que as dicas e sugestões sejam aplicadas na prática pelos leitores que atuam nas áreas relacionadas ao assunto.

As despesas com a saúde representam a segunda maior conta da empresa, logo após a folha de pagamento. Esta já seria uma boa razão para o tema gestão de saúde ter uma atenção focada dentro das empresas. Importante ainda observar os custos indiretos como absenteísmo e produtividade, o impacto no clima organizacional, na retenção e engajamento dos colaboradores e na imagem da empresa, entre outros.

Como crises são o momento de semear o futuro, nosso desempenho pós crise depende daquilo que vamos fazer agora.

Vamos semear oportunidades de inovação futura, reforçando nossas perspectivas para sair desta crise ainda mais fortes.

A pandemia vai passar. As pessoas sairão do isolamento social e retornarão aos locais de trabalho.

Não deixe passar essa oportunidade. Não espere outra crise na saúde, faça o mapeamento do perfil de saúde de seus colaboradores, implante programas de gestão de saúde populacional.

Cultive um ambiente de suporte e inclusivo no trabalho.

Oriente seus colaboradores, ofereça suporte necessário nesta fase e após.

Esta pandemia trará um novo olhar sobre a saúde em escala mundial, corporações serão obrigadas a revisar suas práticas, operadoras de planos de saúde farão uma ampla revisão de suas relações. Todos os stakeholders serão afetados. Esta será de fato a década da saúde. As empresas precisam entender isto como um fator decisivo de competitividade.

Milva Gois dos Santos Pagano
Advogada
Mentora em Gestão de Saúde Corporativa
Sócia da Integra Business
Presidente da ABPRH – Associação Brasileira dos Profissionais de Recursos Humanos

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